26 de nov. de 2009

Narinas atrevidas

De vez em quando, esbarramos com pessoas dessa estirpe peculiar. Os esnobes. Olham como se estivessem a sentir um mau cheiro e empinam o nariz como se esta distância mínima de sua posição original afastassem-nos irrevogavelmente dos que ficaram a mercê das narinas atrevidas. Um bom escudo contra a patética cena está na história da palavra. Uma versão deliciosa diz que a expressão sine nobilitate (sem nobreza) era grafada nos diplomas dos que não possuíam origem aristocrática na Universidade de Cambridge. Sua abreviação, s.nob., identificaria aqueles que, mesmo com hábitos e vestimentas das classes superiores, não teriam o berço. Mas, infelizmente, esta versão não é comprovada. Segundo o site AskOxford, da Oxford University Press, “não há evidência de que a expressão tenha sido usada em listas de nomes de estudantes de Orford ou Cambridge; listas de passageiros de navios (...); como notas em genealogias; ou listas de convidados para indicar que não havia títulos a serem anunciados”. Ainda de acordo com o site, é um termo escocês (escreve-se snab, pronuncia-se como snob) para sapateiro, ou seu aprendiz, cujo primeiro registro data do final do século XVIII. Nesta época era, de fato, usado por estudantes de Cambridge para se referir a qualquer um que não fosse da Universidade. Não havia, portanto, a conotação de origem humilde ou ausência de títulos. Mas, no início do século XIX, a palavra já significava “sem estirpe”, usada tanto para o simples trabalhador quanto para o alpinista social que imitava as maneiras dos aristocratas. No entanto, estamos falando do início da Era Industrial. Se, na Idade Média, as vestimentas, os modos, a linguagem e os gostos eram ditados pelo costume e pela lei, o mesmo já não ocorria na nova estrutura social. Os burgueses agora podiam imitar facilmente os códigos das classes superiores. E esta facilidade em se mimetizar deu origem ao comportamento de que falamos no começo do post e à acepção dos nossos dias: “atitude de quem despreza o relacionamento com gente humilde e imita, geralmente de maneira afetada, o gosto, o estilo e as maneiras de pessoas de prestígio ou alta posição social, e/ou assume ares de superioridade a propósito de tudo” (primeira acepção do verbete esnobismo no Dicionário Houaiss). Ou seja, da próxima vez que as ridículas narinas se mostrarem diante de você, sorria suavemente, pois pertencem antes de tudo a um ignorante.

2 comentários:

FERNANDO CS disse...

Eu já havia lido esse 'post'. Eu o li novamente e achei muito bacana. E como conhecemos gente assim!!!! rs.

"Fantástico!" hahaha.

Misael Rocha disse...

Infelizmente, é mais gente do que eu gostaria de imaginar. Eu queria publicar este post faz tempo, mas precisava de um pouco de inspiração. E veio depois que conheci uma sequência de figuras caricatas. Essa gente me irrita. Então, saiu. Agora vou procurar meu ticket de estacionamento...rs.