16 de mai. de 2008

Corte profundo

Assisti outro dia mais uma vez Blade Runner. A versão comercial. Não foi desde o início. Estava apenas “zapeando” e parei no filme. Tenho esse hábito e às vezes acontecem coisas interessantes. Não lembrava de vários detalhes. O que permitiu uma visão até então nova para mim. Vi a parte final. Algumas referências foram inevitáveis. A relação entre o caçador e o caçado é a primeira coisa que veio à mente. Mas no auge da perseguição, quando o andróide segura uma pomba, me dou conta de outra leitura. Já deu pra sacar por onde vou, não? A trindade. É uma relação de criador e criatura muito antes de ser caçador e caçado. Ainda que não sejam excludentes, a primeira me parece mais culturalmente visceral. De forma simples, a história do filme é sobre a contratação de um ex-policial, Rick Deckard (Harrison Ford), para exterminar quatro andróides rebeldes da série Nexus. Para evitar que estas invenções se tornassem demasiadamente humanos, foi inserido um mecanismo de segurança de autodestruição. Daí a rebeldia. Eles procuram por uma sobrevida. Também de forma simplista, “Deus é uma trindade de pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. (...). Eles são pessoas distintas; ainda assim, são todos o mesmo único Deus. Eles estão em perfeita harmonia consistindo de uma única substância.” Embora sejam o mesmo, há uma distinção de funções na trindade: “o Pai escolhe quem será salvo (Efésios 1:4); o Filho os redime (Ef. 1:7); e o Espírito Santo os sela (Ef. 1:13).” Quando o replicante segura a pomba, começa o perdão e a resignação. Em seguida, ele salva o caçador e morre. Tinha se aproximado demais. O criador gerou a criatura que permitiu aos dois a compreensão do próprio ciclo. Ahhhhhh.... tô doido! Vou bater asas.
PS: replicação significa duplicação de uma molécula de ADN (Houaiss).

9 de mai. de 2008

Ou sabe ou não sabe

Coloquei a discografia da Erikah Badu aí em baixo só para constar. Ela é desses artistas que você não escuta na loja. Simplesmente compra e pronto. Está garantindo para o resto da vida um momento de prazer puro. Todos os álbuns podem ser escutados do início ao fim sem saltar nenhuma faixa. Na verdade, você voltará algumas. E voltará alguns anos mais tarde para escutar de novo. Tem quase dez anos que revisito o Baduizm. Não envelhece. Quem sabe faz assim.

Baduizm - 1997
Baduizm Live - 1998

Mama's Gun - 2000

World Wide Underground - 2003

New Amerykah Part One (4th World War) - 2008



8 de mai. de 2008

Para qualquer momento

"...É sempre melhor o impreciso que embala que o certo que basta,
porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta,
e nada que se pareça com isto devia ser o sentido da vida..."
trecho do poema A casa branca nau preta
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

7 de mai. de 2008

A história com pitadas de Burberry

Primeiro dê uma boa olhada na foto ao lado. Tem muito a ser observado. O outfit é da coleção Outono/Inverno 2008. Rico em textura, corte, tons, padrões. Mas tem outro aspecto em que também é rico: história.
Começa em 1856, com um aprendiz de comerciante de roupas, Thomas Burberry. Então com 21 anos, abre uma pequena loja em Basingtoke (Hampshire, Inglaterra). A ênfase foi em qualidade e inovação de tecidos. Deu frutos. Em 1880, já com uma clientela fiel e sustentando o título de Empório, Burberry desenvolve um tecido resistente às intempéries. Surgia o Gabardine, com a vantagem de manter a boa respiração da pele. Não bastando isso, em 1895, os Burberrys, pois os filhos já estavam participando dos negócios, criam o Tielocken, precursor do atual Trench Coat. A peça fez boa parte da fortuna da família ao ser adotado pelo exército britânico na Guerra dos Bôeres (veja nota). A marca patrocinou também dois grandes exploradores: em 1911, o norueguês Roald Amundsen torna-se o primeiro homem a atingir o Pólo Sul e, em 1914, Ernest Shackleton lidera uma travessia por todo o continente gelado que se tornaria um símbolo de persistência e sobrevivência. Mesmo com esse histórico, o famoso padrão xadrez (check) seria registrado apenas uma década depois. Popularizada por figurões como Winston Churchill, Gary Cooper, Joan Crawford, Humphrey Bogart, George Bernard Shaw e Peter Sellers, a empresa receberia, em 1955 e 1989, dois Royal Warrant of Appointment. Distinção concedida pela família real inglesa aos fornecedores de sua corte como sinônimo de qualidade. Em 2006, a Burberry fez 150 anos e o atual designer da casa, Christopher Bailey, criou uma nova versão do padrão xadrez na coleção Primavera/Verão daquele ano (hemisfério norte). Chamado Housecheck, o novo desenho é feito em cima do Novacheck, um padrão criado para o público jovem que consumia a marca. O xadrez original chamava-se Haymarket Check ou Burberry Classic Check (foto).

Tenho certeza que agora você verá com outros olhos qualquer produção da Burberry.
Nota
Houve duas Guerras dos Bôeres. A primeira, entre 1880 e 1881 e a segunda, entre 1899 e 1902. Os Bôeres eram descendentes calvinistas de holandeses, alemães e franceses. Estabeleceram-se na África do Sul na segunda metade do século XVIII. A descoberta de diamantes e ouro incentivou a imigração, gerou a riqueza dos colonos e o despertou o desejo de independência. Na época esta região era uma possessão inglesa. O Tratado de Vereeniging, assinado em Pretória, encerra o conflito favorecendo a Grã-Bretanha e fazendo algumas concessões à população local.

5 de mai. de 2008

Discurso de um Ditador. Quem dera!


trecho do discurso proferido no filme O Grande Ditador, de Chaplin:
"I’m sorry, but I don’t want to be an emperor. That’s not my business. I don’t want to rule or conquer anyone. I should like to help everyone – if possible – Jew, Gentile – black man – white. We all want to help one another. Human beings are like that. We want to live by each other’s happiness – not by each other’s misery. We don’t want to hate and despise one another. In this world there is room for everyone. And the good earth is rich and can provide for everyone. The way of life can be free and beautiful, but we have lost the way.
Greed has poisoned men’s souls, has barricaded the world with hate, has goose-stepped us into misery and bloodshed. We have developed speed, but we have shut ourselves in. Machinery that gives abundance has left us in want. Our knowledge has made us cynical. Our cleverness, hard and unkind. We think too much and feel too little. More than machinery we need humanity. More than cleverness we need kindness and gentleness. Without these qualities, life will be violent and all will be lost…" (...)

4 de mai. de 2008

Rufus faz os brasileiros



Altamente recomendado é o show de Rufus Wainwright, cantor, que está em turnê pelo país, passando por São Paulo, Rio, Beagá e Brasília. Franca ficou de fora desta vez. Como uma penca de bons artistas, Rufus faz muito sucesso entre a crítica, mas a audiência não consegue penetrar muito em suas referências. Mas algum sucesso ele fez, graças a diversas músicas em filmes de sucesso, em especial Shrek, Moulin Rouge e Brokeback Mountain.

Gay assumido, Rufus é um apaixonado por Ópera, literatura e cultura pop. Seu último álbum, "Rufus does Judy", ou Rufuz faz a Judy, para as íntimas, ele se apresenta de batom, vestidinho e salto alto, cantando as músicas de la Garland. Daí você tira a cabeça dessa diva excêntrica, viciada em metanfetamina (ficou até cega um tempo, por conta do vício) e competentíssima. Para quem curte Keane, Leonard Cohen, Anthony and the Johnsons, é prato cheio.

O Myspace dele tem algumas músicas para conferir, e as datas dos shows. E aqui algumas músicas. Ladies and gentlemen, Rufus Wainwright.