11 de ago. de 2009

Prometeu

"Sim, eu sustento que é preciso haver duas partes na existência:
viver como burguês e
pensar como semideus."
Gustave Flaubert, em Cartas Exemplares




Pieter Paul Rubens, Prometeu, 1861

2 de ago. de 2009

Sutileza e força

Outro dia estava ajeitando meus livros e encontrei um chamado Histórias do bom Deus, de Rainer Maria Rilke (ed. 7 letras). No que diz respeito a este autor, compro tudo que acho. Este, eu ainda não tinha lido. É uma coletânea feita a partir de duas viagens no ano de 1897: Itália e Rússia. Entre leituras, estudos e conversas, o poeta reuniu histórias que revelam aos poucos um sentido poético e livre de Deus e da religiosidade. O trecho abaixo é de Uma história contada à escuridão. Prestem atenção na sutileza e na força da metáfora.

'Estranho', disse o doutor. 'O que, Georg?' 'Como você entende bem a vida. Como você cresceu, como ficou jovem. Onde você pôs sua infância? - nós dois éramos crianças desamparadas. Isso não pode ser mudado nem ficar sem conseqüências.' 'Você quer dizer que precisaríamos sofrer pela nossa infância, num caminho direto?' 'Sim, é exatamente o que quero dizer. Por essa pesada escuridão atrás de nós, com a qual mantemos relações tão fracas, tão inseguras. É um tempo: colocamos nossos primórdios, todo começo, toda confiança, o germe para tudo que talvez um dia venha a ser. E de repente sabemos: tudo isso afunda num mar, e nunca sabemos exatamente quando. Não percebemos isso. Como se alguém juntasse todas as suas economias e comprasse uma pena, prendendo-a no chapéu: a próxima rajada de vento vai levá-la. Naturalmente ele chega em casa sem a pena, não lhe restando nada além de refletir sobre quando ela poderia ter voado.'
'Você pensa nisso, Geog?'
'Já não penso mais. Desisti. Começo em algum lugar atrás de meus dez anos, lá onde parei de rezar. O resto não me pertence.'