11 de mar. de 2010

Assim falaram de Rafael

"Aqui jaz Rafael, que durante sua vida causou medo à Natureza de ser domada por ele e, assim que morreu, de morrer com ele."



Detalhe do afresco A escola de Atenas, 1509-1510, Palácio Apostólico, Cidade do Vaticano.

26 de nov. de 2009

Narinas atrevidas

De vez em quando, esbarramos com pessoas dessa estirpe peculiar. Os esnobes. Olham como se estivessem a sentir um mau cheiro e empinam o nariz como se esta distância mínima de sua posição original afastassem-nos irrevogavelmente dos que ficaram a mercê das narinas atrevidas. Um bom escudo contra a patética cena está na história da palavra. Uma versão deliciosa diz que a expressão sine nobilitate (sem nobreza) era grafada nos diplomas dos que não possuíam origem aristocrática na Universidade de Cambridge. Sua abreviação, s.nob., identificaria aqueles que, mesmo com hábitos e vestimentas das classes superiores, não teriam o berço. Mas, infelizmente, esta versão não é comprovada. Segundo o site AskOxford, da Oxford University Press, “não há evidência de que a expressão tenha sido usada em listas de nomes de estudantes de Orford ou Cambridge; listas de passageiros de navios (...); como notas em genealogias; ou listas de convidados para indicar que não havia títulos a serem anunciados”. Ainda de acordo com o site, é um termo escocês (escreve-se snab, pronuncia-se como snob) para sapateiro, ou seu aprendiz, cujo primeiro registro data do final do século XVIII. Nesta época era, de fato, usado por estudantes de Cambridge para se referir a qualquer um que não fosse da Universidade. Não havia, portanto, a conotação de origem humilde ou ausência de títulos. Mas, no início do século XIX, a palavra já significava “sem estirpe”, usada tanto para o simples trabalhador quanto para o alpinista social que imitava as maneiras dos aristocratas. No entanto, estamos falando do início da Era Industrial. Se, na Idade Média, as vestimentas, os modos, a linguagem e os gostos eram ditados pelo costume e pela lei, o mesmo já não ocorria na nova estrutura social. Os burgueses agora podiam imitar facilmente os códigos das classes superiores. E esta facilidade em se mimetizar deu origem ao comportamento de que falamos no começo do post e à acepção dos nossos dias: “atitude de quem despreza o relacionamento com gente humilde e imita, geralmente de maneira afetada, o gosto, o estilo e as maneiras de pessoas de prestígio ou alta posição social, e/ou assume ares de superioridade a propósito de tudo” (primeira acepção do verbete esnobismo no Dicionário Houaiss). Ou seja, da próxima vez que as ridículas narinas se mostrarem diante de você, sorria suavemente, pois pertencem antes de tudo a um ignorante.

11 de ago. de 2009

Prometeu

"Sim, eu sustento que é preciso haver duas partes na existência:
viver como burguês e
pensar como semideus."
Gustave Flaubert, em Cartas Exemplares




Pieter Paul Rubens, Prometeu, 1861

2 de ago. de 2009

Sutileza e força

Outro dia estava ajeitando meus livros e encontrei um chamado Histórias do bom Deus, de Rainer Maria Rilke (ed. 7 letras). No que diz respeito a este autor, compro tudo que acho. Este, eu ainda não tinha lido. É uma coletânea feita a partir de duas viagens no ano de 1897: Itália e Rússia. Entre leituras, estudos e conversas, o poeta reuniu histórias que revelam aos poucos um sentido poético e livre de Deus e da religiosidade. O trecho abaixo é de Uma história contada à escuridão. Prestem atenção na sutileza e na força da metáfora.

'Estranho', disse o doutor. 'O que, Georg?' 'Como você entende bem a vida. Como você cresceu, como ficou jovem. Onde você pôs sua infância? - nós dois éramos crianças desamparadas. Isso não pode ser mudado nem ficar sem conseqüências.' 'Você quer dizer que precisaríamos sofrer pela nossa infância, num caminho direto?' 'Sim, é exatamente o que quero dizer. Por essa pesada escuridão atrás de nós, com a qual mantemos relações tão fracas, tão inseguras. É um tempo: colocamos nossos primórdios, todo começo, toda confiança, o germe para tudo que talvez um dia venha a ser. E de repente sabemos: tudo isso afunda num mar, e nunca sabemos exatamente quando. Não percebemos isso. Como se alguém juntasse todas as suas economias e comprasse uma pena, prendendo-a no chapéu: a próxima rajada de vento vai levá-la. Naturalmente ele chega em casa sem a pena, não lhe restando nada além de refletir sobre quando ela poderia ter voado.'
'Você pensa nisso, Geog?'
'Já não penso mais. Desisti. Começo em algum lugar atrás de meus dez anos, lá onde parei de rezar. O resto não me pertence.'

18 de jun. de 2009

A vida imita a arte

Este ano, tem sido recorrente para mim a discussão sobre as características da arte contemporânea em contraponto às da arte tradicional. Esta última sendo a herdeira de 500 anos de história sem interrupção (1400-1900), embora sua origem remonte a Péricles. E a primeira sendo a atual dona absoluta de todas as bienais, feiras, galerias, lojas de conveniência, quermesses e qualquer coisa facilmente feita na China. Entendam-me bem, acho que existem artistas valorosos hoje: Anish Kapoor e Richard Serra são bons exemplos. Lucien Freud segue outra vertente que particularmente me agrada mais. A crítica aqui vai para a produção insossa e leviana que se arroga o título de arte. Call me old fashion, pois ao ler este diálogo de um livro do século XIX, vejo plenamente retratada a minha opinião sobre as duas manifestações:

– É uma regra para mim que uma pessoa que escreve uma carta longa com facilidade não pode escrevê-la mal. – Isto não será um elogio para o Darcy, Carolilna, disse seu irmão, pois ele não escreve com facilidade. Ele procura demais por palavras com quatro sílabas. Não é isso, Darcy?
– Meu estilo de escrita é muito diferente do seu.
– Oh! Disse a senhorita Carolina, meu irmão escreve da maneira mais displicente imaginável. Deixa metade das palavras de fora e apaga o resto.
– Minhas idéias fluem tão rapidamente que eu fico sem tempo para expressá-las. Por isso, minhas cartas, às vezes, não transmitem nada para meus correspondentes.
– Sua humildade, Carlos, disse Elisabete, deve desarmar a reprovação.
– Nada mais capcioso, disse Darcy, que a aparência de humildade. Com freqüência é apenas negligência de opinião e, algumas vezes, um exultação indireta.
– E a qual dos dois você diz pertencer meu recente ataque de modéstia?
– Exultação indireta, pois, na verdade, você se orgulha dos seus defeitos ao escrever, uma vez que os julga procedentes da rapidez de pensamento e da negligência de execução, que, se não estimável, é pelo menos extremamente interessante. O poder de fazer algo com rapidez é sempre elogiado em demasia pelo seu possuidor e com freqüência sem nenhuma atenção à imperfeição do ato.


Desprezo pelo esforço e trabalho árduo e, em muitos casos, o esboço como fim são atitudes freqüentes na produção atual. E isto está no artista, no curador e no negociador de arte.
Nada mais capcioso.

PS: o trecho é do livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, e a obra na foto chama-se Lobster, de Jeff Koons, exposta em 2008 no Salão de Marte do Palácio de Versalhes.

5 de mai. de 2009

Food for thought

"Our moments of peace are, I think, always associated with some form of beauty, of this spark of harmony within corresponding with some infinite source without"
Harold Speed, in Practice and Science of Drawing

24 de abr. de 2009

Rádio online


Acabei de descobrir uma rádio na internet que toca só Indie e Pop. Nas palavras dos fundadores da rádio: “errorfm is an international listener-controlled internet radio station based in the UK”. Prato cheio para quem gosta de Blur, Pixies, The Smiths e companhia ilimitada. A rádio traz também coisas novas como Oren Lavie e Hockey sem esquecer dos bisavós The Beatles. Não tem publicidade e ainda conta com o humor enxuto e inteligente dos programadores. Para quem costuma escutar rádio pelo iTunes, procure nas sessões de rock ou alternative.