18 de jun. de 2009

A vida imita a arte

Este ano, tem sido recorrente para mim a discussão sobre as características da arte contemporânea em contraponto às da arte tradicional. Esta última sendo a herdeira de 500 anos de história sem interrupção (1400-1900), embora sua origem remonte a Péricles. E a primeira sendo a atual dona absoluta de todas as bienais, feiras, galerias, lojas de conveniência, quermesses e qualquer coisa facilmente feita na China. Entendam-me bem, acho que existem artistas valorosos hoje: Anish Kapoor e Richard Serra são bons exemplos. Lucien Freud segue outra vertente que particularmente me agrada mais. A crítica aqui vai para a produção insossa e leviana que se arroga o título de arte. Call me old fashion, pois ao ler este diálogo de um livro do século XIX, vejo plenamente retratada a minha opinião sobre as duas manifestações:

– É uma regra para mim que uma pessoa que escreve uma carta longa com facilidade não pode escrevê-la mal. – Isto não será um elogio para o Darcy, Carolilna, disse seu irmão, pois ele não escreve com facilidade. Ele procura demais por palavras com quatro sílabas. Não é isso, Darcy?
– Meu estilo de escrita é muito diferente do seu.
– Oh! Disse a senhorita Carolina, meu irmão escreve da maneira mais displicente imaginável. Deixa metade das palavras de fora e apaga o resto.
– Minhas idéias fluem tão rapidamente que eu fico sem tempo para expressá-las. Por isso, minhas cartas, às vezes, não transmitem nada para meus correspondentes.
– Sua humildade, Carlos, disse Elisabete, deve desarmar a reprovação.
– Nada mais capcioso, disse Darcy, que a aparência de humildade. Com freqüência é apenas negligência de opinião e, algumas vezes, um exultação indireta.
– E a qual dos dois você diz pertencer meu recente ataque de modéstia?
– Exultação indireta, pois, na verdade, você se orgulha dos seus defeitos ao escrever, uma vez que os julga procedentes da rapidez de pensamento e da negligência de execução, que, se não estimável, é pelo menos extremamente interessante. O poder de fazer algo com rapidez é sempre elogiado em demasia pelo seu possuidor e com freqüência sem nenhuma atenção à imperfeição do ato.


Desprezo pelo esforço e trabalho árduo e, em muitos casos, o esboço como fim são atitudes freqüentes na produção atual. E isto está no artista, no curador e no negociador de arte.
Nada mais capcioso.

PS: o trecho é do livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, e a obra na foto chama-se Lobster, de Jeff Koons, exposta em 2008 no Salão de Marte do Palácio de Versalhes.